setembro 13, 2004

Rafael (II)..

"Recebeu?"

Rafael..

Hoje é um dia incerto, instável. O calorzinho ameno, muitas vezes, sucumbe e dá lugar a uma série de nuvens das trevas que florescem no céu, rasgando-o de cinzento e o cheirinho a terra húmida parece que nos enfeita os sentidos, é um novo ciclo que se renova, um caminho de camisolas de lã, botas, livros, chuva e de engates de tansportes públicos. O verão está no fim e com ele acabam as sensações de vagueio psicológico, onde se caminha, de passo em passo, por cima de breves vislumbres de pensamento, onde só se vive da imaginação, de uma linha temporal inexistente e indefinível. Nestes momentos, o presente não existe, é alimentado por memórias cíclicas e viciantes do passado, onde um piri-piri do futuro, nos faz vibrar, ossinho a ossinho, arrepia-nos o couro cabeludo, dá-nos aquele êxtase aberto e sóbrio, aquela ilusão de um orgasmo contido.

É o meu último dia de férias. Uma onda de ansiedade percorre o meu corpo. Sinto que não estou de férias já, mas também não estou em aulas. Estou na fase de transicção em que as visões constantes podem levar a um futuro incrivelmente emocionante, cheio de escrita permanente, de sons de roupa rasgada em cima de mesas, de lápis partidos, de uma dúzia de transgressões para sempre quebradas, como se o fim do novo ciclo vindouro pudesse durar uma vida toda, pudesse estar na origem do princípio da minha vida. Ou fim. Este estado é incerto, a garra de iniciar novos desafios, provocam um comichão de sentido aborrecimento, pois não estou a fazer nada que não tenha feito, com bastante insistência, persistência, etecetera e tal, nestes últimos 3 meses. Se o futuro me invoca imagens, o passado também o traz ainda me lembrando a aventura no E., e as noites em que passei no N., falando, jogando às cartas, esquecendo as vicissitudes da vida que levava aqui. Mesmo não estando longe de ti.. "As things colide", dos Maroon5. Experimentem.

Mas os pensamentos nunca são compreensíveis e, muito menos, racionais. Nem os NOSSOS próprios pensamentos, aquilo que é intrinsecamente nosso, exclusivo da nossa existência, confidencial a tudo e todos, a única coisa à qual ninguém jamais poderá ter acesso. É invisível, indetectável, "inpalpável". É nosso e ponto final. É a única coisa que realmente temos e que ainda nos dá independência. Apenas os nossos pensamentos são livres. E nessa loucura, nessa insaciabilidade, nesse raciocinar de imagens dispersas mas revoltadas e familiares no seu contexto, forma-se uma cadeia, uma colecção de mini-filmes, cuja ordem das cenas não se enquadra, cujo cenário muda com as personagens em andamento, onde as roupas caiem ao som de um zumbido, ou onde a acção passa de lenta a inexistente. É um sonambulismo permanente a que estamos sujeitos. Nada pode mudar isso. Somos animais racionais, paranóicos e metabólicos.

Voltei a Lisboa hoje, voltei a lixar os pés [mas desta vez com outras sandálias de P.C.] mas não voltei a vislumbrar aquele rapaz lindo de cabelo preto espetado e olhos verdes. Tenho, SEGURAMENTE, de o conhecer. Não é que não tenha ideias..mas, aceitam-se sugestões como "melhor abordar um novo e belo desconhecido". Era um naco, uma beleza para os olhos de qualquer mulher, com uma doçura nos seus olhos, formosa e grandiosa, como se eles fossem mel e quando nos olhassem, transmitissem uma sinceridade de espírito e uma meiguice carnal, tremendas. Que lindo que era.

Lindo também deve ter sido o concerto de Madonna. A Rainha da Pop consegue atrair toda a gente: heterossexuais, gays, papagaios, galinhas e piriquitos. Impressionante, que feito notável! Just "Like a Virgin.."..Uuuhhh..Minha malandra..

A descarga emocional já está toda aqui, agora vou-me despedir das minhas férias de verão em beleza e fazer algo que possa não fazer durante muito tempo: jogar PS2. Tenho monstros de areia à minha espera e gajos para irem à casa de banho. Alinham?

(R. não fiques triste, prova o que vales, esforça-te. Podes contar com a minha ajuda.)

"Senti falta de receber.."


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