novembro 19, 2006

Sozinha na Caixinha Mágica

Que sono. Não imaginam a "porrada" de sono que tenho, ainda, para mais, porque estou no local de trabalho sem fazer nada.
Desde que cheguei à Redacção que cresci bastante. Comecei a olhar para as pessoas e para a vida de uma forma diferente, apesar de não mudar as minhas mais profundas convicções em relação às coisas que me rodeiam, de forma geral. Não percebo, apesar deste crescimento positivo, como é que o mundo pode ser tão cruel e tão cão. Secalhar sou eu que sou demasiado nova e não sei porra nenhuma da vida. Ou secalhar sou apenas esquisofrénica e não consiga mostrar, realmente, a plenitude do meu ser por ser deveras complexo. E talvez seja por isso que me sinto tão incompreendida. Ou talvez esteja rodeada, no momento, de um bando de abutres, que só pensa no seu bel prazer e passa o dia em sites porno. Sinceramente, não sei dizer ou explicar..
Como qualquer ave de rapina, procuram alimentar-se da vida dos outros. São carnívoros, vorazes e não deixam escapar qualquer oportunidade de mostrar a sua infinita indisponibilidade para assuntos que não lhe interessem abordar. Ou seja, tudo o que sair deles mesmos. A verdade, para mim, é esta. Mas é a verdade com a qual tenho de lidar diariamente, mesmo que seja desagradável. O homem do século XXI é egoísta, por natureza. Pensa nele próprio, acima de tudo e não se importa de espezinhar os sentimentos alheios, se fôr necessário. Admito. Às vezes é necessário. Ou seja, é um mal necessário, com o qual não concordo e não gosto, mas que tem de prevalecer, em algumas vezes. Noutras - a maioria - é apenas teimosia e afirmação. Nada mais.
No estado sonâmbulo em que me encontro, todas as sensações estão à flôr da pele. Tento manter a calma e um sorriso - sincero - no rosto mas distancio-me de tudo e todos. Como é que posso não o fazer se passo horas, tempos mortos e mais que mortos, estática, à frente de um ecrân de computador que insiste em me fritar os olhos? Todos estão no seu pc, no seu mundo, mesmo que comuniquem de forma não verbal. Aliás, a comunicação verbal pouca força tem, e expressão efectiva, em comparação com a comunicação não verbal. Parece estranho mas é verdade. Já tiveram aquela sensação que alguém diz alguma coisa, mas sem qualquer convicção? Como se estivesse a mentir a si próprio e ao mundo..As nossas crenças acabam por nos entalar. Por muito que se diga uma coisa, se não se acredita nela..isso traduz-se nos gestos, na postura, no olhar, no tom de voz. E é quase impossível de disfarçarmos essas lacunas aos olhos dos outros que são observadores natos. Sim, os seres humanos estudam os outros, passam a vida a fazê-lo. E por isso aprendem e crescem..Mas o que mais fazem é juízos de valor dos outros. Porque estudam um olhar e numa fracção de segundo apercebem-se do que aquela certa e determinada pessoa pode estar a pensar. E por mais absurdo que pareça, as probabilidades de acertar são mais que muitas, porque avaliamos alguém que é nosso semelhante, alguém que, como nós, é ser humano, um ser vivo inteligente, com ideias e atitudes. Mesmo que pouco vigentes ou reais. Nem aqueles que são apelidados de fracos, escapam a esta ideologia. Todos têm personalidade e modo de estar. Se não são ninguém, acabam por sê-lo por não serem ninguém. Confuso?
Há dias em que dou por mim a pensar nos "ses". É a chamada tortura existencial. Pensar no que a nossa vida seria, ou teria sido, se optassemos por "x" ou por "y", não nos traz mais felicidade ou melhora as coisas. Mas ganhamos imaginação. Construímos enredos e voamos pelo mundo. Se, em vez de voltar para Portugal, tivesse ficado a dormir na minha cama king size do JW Marriott, no Cairo, quem é que eu seria agora? Tornar-me-ia numa mulher infeliz, de cara tapada a viver debaixo da ponte? Talvez. Casaria com um árabe de raízes ocidentais, num bairro abstado da zona de heliópolis? Seria possível. As pessoas passam a vida a dizer-me "Fdx, só fazes filmes, não faças filmes". Imaginar e sonhar talvez seja um crime neste mundo tão rápido e exigente, no qual pensar é uma barreira à prosperidade do homem na sociedade moderna e vertiginosa. Ou seja, hoje já não há espaço ou tempo para pensar, para reflectir. É acordar, trabalhar o máximo, viver ao máximo, foder ao máximo, procriar e não refilar muito no final de tudo, porquie já tivemos o nosso papel na terra. Mas pensar é essencial e faz falta. Se penso em tudo o que não seria, imaginem só e vejam. Talvez se penso no que não sou, é porque realmente sei quem sou. Agora. Amanhã posso tornar-me numa mulher casada e ter gémeos. Nunca sei o amanhã. E se, por um lado, gosto de dominar a minha vida, ser independente, indomável, teimosa e orgulhosa. Por outro, sigo os meus instintos com lealdade e procuro o imprevisível, o arriscado. Mas apenas e sempre só. E, talvez por isso, faça os filmes da minha vida, procurando um papel principal. Algo perto disso, pelo menos. L.

novembro 13, 2006

Vidas atribuladas

Toda a gente que me conhece minimanente, sabe que eu não páro quieta um segundo. Nem que seja por dentro, na minha mente. E aborreço-me facilmente. Por isso tenho sempre que engendrar esquemas para me distrair e divertir que é, acima de tudo, o mais importante nesta fugaz vida. Sem diversão e prazer, sem um belo esforço recompensado, as coisas tornam-se muito mais difíceis de viver e ser ultrapassadas, talvez porque perdem a graça ou o sabor. De que me vale passar a vida aborrecida, de cara de vela apagada e corpo de goma? Sei que era mais fácil ser simples e resignada. "Ah e tal..isto é muito mau e tal, mas é a vida". Mas como não sou uma portuguesa típica nesse sentido, portantoss, paciência.

Vim do México, do calor, da praia, das bebidas, das conversas com os empregados de hotel, da absorção da cultura e só me consegui chatear. Cheguei a Portugal e voltou tudo ao mesmo. E desde que comecei o estágio, muita coisa mudou. Do dia para a noite fiquei sem namorado, sem vida social, sem tempo. Digo-vos, foi melhor assim. Não me sentia feliz, era como correr atrás de algo que desejasse muito e estivesse sempre a cair e a tropeçar. De seguida levantava-me de novo, mas por muito que quisesse, já não conseguia correr tanto e da mesma forma..destemida. Os meus sentidos já estavam desconfiados e mantinham-se alerta para qualquer possível acidente de percurso. Corri e caí que me fartei. Não aguentei mais manter uma relação que não existia. E libertei-me. E o trabalho distraíu-me.

Abri os horizontes do olhar, da mente e corri em direcção aos objectivos que comecei a conhecer no dia-a-dia. Cresci, morri, renasci. É tão mais fácil procurar a aventura e os desafios do que ficar à espera que ela nos caía, que a obra do destino nos seja favorável e nos dê novas oportunidades. Infelizmente - ou não - as coisas não funcionam assim. Não sei bem o que acabei de dizer, mas apeteceu-me e fez-me bem..O stress faz mal, meus amigos. Não se deixem levar por ele e arrisquem-se sempre a questionar as coisas. Parece de doidos..Parecendo que não, ajuda (Brunito, tamos contigo pá..). Hasta la victoria siempre. L.