julho 26, 2007

Solta mas presa


Já viram que está tudo por um fio? Tudo à nossa volta não passa de uma ilusão, na maioria das vezes, um sonho que pode ser transformado em pesadelo, se deixarmos de conhecer e viver nos rituais que conhecemos, dia após dia. Crescemos nesses rituais, vivemos neles com toda a energia que conhecemos e, de repente, puf..vão-se. E depois? Depois nada. Casa, família, amigos, sexo, romance, trabalho. Escapa-se-nos tudo por entre os dedos. E cá com uma pinta..É muito difícil conquistar alguma coisa na vida, ganhar alguma coisa depois de uma luta com sabor a suor, mas é muito fácil perder tudo numa milésima de segundo. E porquê? Por que é que esta fragilidade da vida nos persegue em cada esquina que viramos?
Vivemos as coisas com ligeireza, relativizamos as tragédias e as tristezas. Ya. E depois? Um dia achamos que temos tudo, que somos felizes, e depois tudo muda e regride-se, desce-se um patamar no percurso da vida, sem se saber realmente qual a direcção a atalhar. Alguém me compreende? Porque muda tanta coisa ao mesmo tempo? E porque é que só muda aquilo que não se quer mudar? Um sentimento, um amor, uma paixão, uma memória que permanece imutável no nosso inconsciente. Há coisas que não consigo mudar. Outras que posso querer mudar, mas não consigo. Mas o pior é mesmo querer que certas coisas não mudem. Nunca. Como as manter vivas dentro de nós?L.

julho 24, 2007


No outro dia fui ao Casino Lisboa. Já lá tinha ido um par de vezes, apesar de não ser (felizmente) viciada nas máquinas de sugar moedas e fichas. Dou meia dúzia de voltas ao local, atraída pelos neons, pelas luzes cintilantes e os uniformes dos croupiers. Deparo-me com a frieza das expressões, a agilidade do olhar, a destreza das maõs que manobram as cartas e os chips, como raramente vejo. Vislumbro a segurança do local.
Mais à frente aproximamo-nos da mesa com os apostadores no Black Jack, onde uma croupier alta e loira é visível à distância. Oriunda das terras da Europa de Leste, os olhos azuis e pintados, com uma massa escura, mantêm-se distantes e impávidos como gelo, mas nunca serenos. Estuda os movimentos, conta rápido o valor das cartas e desdobra os dedos elásticos como se pudesse apanhar todas as cartas num instante. Repete este movimento..over and over..Fico tão parva e fascinada a olhar, que me pergunto donde é que aquelas enigmáticas criaturas terão saído. De uma escola? De um curso? Após uma breve pesquisa, descobri este filme com o Clive Owen, de 1998, "Croupier". Talvez aí encontre as respostas às minhas questões que..desejo ver saciadas. L.

julho 19, 2007

Um momento num "click"

Bela esta fotografia, não? Ando há mais de uma semana a trabalhar nos faróis, ou seja, a investigar, a ler documentos em word com pesquisas já antigas. É um trabalho muito interessante este de mexer e remoer em janelas virtuais para o mundo, sempre à procura de mais informação. Especialmente para pessoas curiosas como eu. Deparei-me com esta imagem e não pude deixar de a colocar aqui. Já venho dissertar sobre as ideias do meu espírito inquieto. L.

julho 18, 2007

Porquê?

Não consigo entender. Ajudem-me por favor. Porque é que é tão socialmente incorrecto dizer-se, realmente, o que se pensa e, acima de tudo, o que se sente? Porque é toda a gente vê aqueles que se abrem e falam dos seus sentimentos, com tanta abertura, como os "vulneráveis" e os "fracos"? Não, expliquem-me! Sinceramente, não consigo entender a necessidade que temos de, diariamente, nos escondermos por detrás de máscaras e dizer que "sim, sim", "ya, ya", acenas com a cabeça, positivamente e veementemente, como se fôssemos carneiros e como se tivesse que ser tudo só assim. Por favor.
Sinto-me discriminada por dizer o que digo, às vezes uma idiota, mas acima de tudo incompreendida por teimar num sentimento e deitá-lo cá para fora. Não interessa quantas vezes o digo, se é importante, é importante. E se acho que o devo dizer ou expressar seja de que maneira fôr, digo. Para quê reprimir alguém que, já por si própria, se auto reprime tantas vezes por causa das chamadas pressões desta sociedade de merda? Desculpem lá, mas é assim que as coisas funcionam nesta vida. E todos nós sabemos disso. É a velocidade de manhã para ir trabalhar, é a falta de tempo e desânimo para apreciar a vida. A competição insistente e permanente. Não há pachorra, foda-se.
As pessoas escondem o que sentem, não assumem, têm receio e escondem-se numa máscara. Tento compreeender, mas hoje estou realmente com algumas dificuldades. Amor, ódio, indiferença, amizade, atracção..porque não deixar soltar tudo isto para fora?L.

julho 16, 2007

"Volareeeeee.Cantareee.."

Apeteceu-me.L.

"Às escuras e às avessas"

Ah que bom. Escrever, escrever, escrever. É mesmo disto que preciso. Sem convenções, sem regras, sem limites. Deixo-me levar pelas ondas tenebrosas do meu pensamento, como eu quiser. Sim.
Tenho muitas novidades, mas poucas que possa descrever aqui, minuciosamente. Finalmente acabei o meu curso de Canto. Quer dizer, fiz a disciplina. Ao longo de todos estes anos, já tenho a disciplina do instrumento do Curso Oficial de Música, com uma habilitação similar ao 12º ano (mas no plano musical), contudo isso não quer dizer que esteja preparada para cantar a sério. Pelo menos, em canto lírico. Tenho noção de que, ao longo destes anos todos, deveria ter estudado muito mais. É como um atleta que tem de correr todos os dias para treinar o corpo e disciplinar a mente a todos os sacrifícios físicos, pelos quais tem de passar. Mas não é simples fazer da música a nossa vida, quando tem de pingar ao fim de mês (e de algo lado terá de vir). Sei que podia ter feito muito melhor, mas agora tenho que ver o lado positivo das coisas e digo-vos: parabéns a mim por ter conseguido concluir esta etapa. Outras etapas estarão por vir, outros desafios estão à minha espera para ser ultrapassados. Posso até nem conseguir tudo o que desejo, mas nunca irei deixar de tentar. Nem que morra a fazê-lo. É importante ter consciência disto.
E já foi há três anos que fui ao Egipto. Aliás, faz amanhã três anos que voei para lá e não queria mais voltar. Err. Pois. Só que voei e, voilá, cá estou eu. Continua a ser a viagem da minha vida, apesar de há um ano atrás ter passeado pelo México como uma jovem solteirona, independente e irreverente, que lá no fundinho e inconscientemente, apenas quer-se afirmar e fugir da prisão da sua vida. Mas o Egipto será sempre o início da minha fase, realmente e verdadeiramente, emancipada.
Uma semana numa cultura "a modos que" anti-ocidental, no meio de temperaturas abrasadoras de 50 graus, no pleno forno do deserto, em companhias desconhecidas, fizeram de mim uma mente bemmmm mais aberta. Bem mais. Quer dizer, será que é assim que se escreve? Em sentido figurado sim, é possível escrever-se quase tudo.
Nem sei do que me apetece escrever exactamente. Mas apetece-me escrever. Acabei de ler um livro interessante. Não diria que é fantástico, mas interessante. Chama-se "O ano das Hienas". Passava-se no Antigo Egipto, na época de Ramsés III, um faraó forte e saudável que teve muita popularidade no seu reinado, cerca de 1500 anos antes de Cristo (ou secalhar estou a mentir..sei lá). E o interesse do livro é passar-se uma espécie de enredo CSI naquela época. Ya, só que aqui é um só homem a fazer tudo e ainda o tentam matar. Tadito. É bem mais interessante que a série televisiva, que passa continuamente há vários anos e a pachorra começa a faltar. Mesmo na Feira da Ladra não há grande coisa.
Semerket, um antigo investigador egípcio, encara uma grave crise existencial depois de ter sido abandonado pela mulher, Naia. Refugiado na bebida e em perdição, o jovem tem uma oportunidade única quando o Vizir do Faraó (uma espéce de Primeiro-Ministro do local..) o convida a desvendar o mistério causado pelo assassinato de uma sacerdotisa anciã, que vivia perto do Vale dos Reis, na aldeia dos artesãos de túmulos. Semerket é encorajado pelo seu irmão, Nakht, e em breve sucedem-se umas quantas páginas de suspense, mistério, intriga e discrição. Quem está por detrás do assassinato de Hetep-Heres, uma idosa cega, morta à machadada? (err..que imagem bonita para se imaginar depois do almoço, han?) Se são amantes de história e narrativas com reticências, então recomendo. Vivamente.
E, para rematar este long post que já se alonga - e eu não tenho a vossa vida pá, tenho casa, carro, marido e filhos para cuidar, xiça, raios e coriscos, ai cu'a breca - falo de uma coisa que em tem assaltado a cabeça de vez em quando..Er. Calma lá. O que era mesmo? L. (Fica pá próxima meus amigos..)

julho 11, 2007

"Cobras, cenas e sonhos.."

Pois é.
Ontem tive um sonho horrível. Acordei meio suada, meio azambuada com o realismo das imagens que, minutos antes, visionara através do obscuro da minha mente. Corri para o frio de um duche matinal, na esperança que me acordasse e me libertasse dessas memórias (com bastante significado, diga-se). A água escorria e lambia-me..eu fechei os olhos e vi-a. A serpente.
Estava com alguém, não sei quem é, não me perguntem. Um desconhecido - alto, moreno e qualquer coisa como bastante afável - acompanhava-me numa viagem algures. Íamos sorridentes e felizes como se pertencêssemos a uma película de Hollywood. Hum, era bom era. Mas a parte a seguir piorou..
Abri os olhos.."err..champô, champô..". Meti daquele líquido químico no cabelo, semi adormecida, e voltei ao meu sonho. S. Ela lá estava no sonho. Uma data de acontecimentos bizarros sucederam-se, encadeados, para me magoar e atingir. Eu corria, fugia, estripava-me e o "desconhecido" lá estava para me proteger. Estranha esta sensação de ter uma brasa, que não conheço de todo, num sonho, a dar-me o seu ombro amigo para consolo.
Depois de tamanha recilagem de planos zoom, de correrias em telhados e de música ambente, só me recordo de uma última cena - digo "cena" porque encaro os meus sonhos como filmes, autênticas aventuras em forma de curta-metragem que me possuem a mente -. Um corredor de um avião. Os compartimentos por cima dos assentos dos passageiros. Eu, sozinha e esfarrapada. Dirijo-me a um compartimento em busca de algo, não sabendo bem o quê, mas temendo a armadilha que se encontre no seu interior. E, passo a passo, decidi avançar, caminhar em direcção ao perigo, como se fosse inevitável e bom. Cada vez melhor. Abri o compartimento cautelosamente. Variada bagagem de mão, composta por malinhas de médias dimensões, compunha o espaço. Observei. "Ts, tssss...". Pânico. Uma serpente ali demabulava..aproximei-me. Sagaz e atenta vislumbrei uma cabeça ovulada e ondulante a surgir com os olhos a faiscar no ambiente soturno do espaço. Por fracções de segundos agitou a língua com languidez para, no momento a seguir, atacar, mas !pás! Reagi, num ápice de segundo, e fechei a tampa, batendo na cabeça da serpente que tinha atacado na minha direcção. Uma, duas, três vezes. Continuei num esforço árduo para não sentir a camada adiposa do réptil no meu braço.
Silêncio. A cabeça do animal estava esmagada, o sangue espesso escorria. Abri o compartimento, vasculhei o interior, repugnada pelo olhar da serpente me atingir fulminante, e deparei com a mala da S. Percebi, de imediato, tudo. Era no interior do objecto que estaria a cobra certamente. "Mais uma tentativa falhada...". Senti o corpo fraquejar naquele momento e o coração a latejar. Por muito que me esforçasse não conseguia entender a obstinação na minha morte. Encontrei documentos dela. Uma foto de passe com cabelo entrançado. Um livro de feitiços, bruxaria e maldições. Vasculhei e boquiaberta, congelei. Nem queria acreditar. Na 1ª página do pesado livro estava uma foto minha, para minha admiração e, por baixo, uma legenda: "A nossa vítima/ alvo". Inveja, azar no trabalho e no amor. Estava lá tudo. Larguei tudo e desatei a chorar, enquanto deslizava até ao chão alcatifado..O desconhecido surgiu. "Lara, estás bem?" Abraçou-me fortemente e beijou-me como se fosse o último instante antes do mundo acabar. Nesse momento ouvia-se como pano de fundo.."Porquê?..Te esqueceste de mim..assim?..Diz-me porquê..".L.