setembro 27, 2005

"Home sick"

Não tou com saudades de casa, porra nenhuma. Tou mesmo é doente de casa, isto é, farta de estar em casa. Já faltei dois dias à universidade, tou com uma tosse diabólica. O que vale é que já estou melhor e amanhá estou de regresso à civilização. Ver pessoas, ler o jornal, andar de transportes. Faz-me tanta falta. Mesmo para depois descobrir, que me aborrece até à ponta dos cabelos. Mas ao menos, é alguma coisa, não?
Já começou a campanha para as autárquicas. Pessoal, não se esqueçam que votar não é apenas um direito de toda a gente, mas, acima de tudo, um dever. Que tal, deixar de dizer mal de toda a gente e começar a ter uma atitude crítica positiva em relação à vida?

setembro 25, 2005

"Fim de Semana constipado.."

Pois é. Tou doentita e, por causa disso, não arredei de la casita todo o fim de semana. Que tristeza. Passei o tempo no computador ou na sala a ver as comédias deprimentes de Outuno. Bem, sempre tive o prazer de comer uma torradinha com queijo, daqueles quase amanteigado. Ontem já tava com este blog pelos cabelos. Desculpem lá, qualquer coisita. Mas é que tinha feito uma dissertação, deveras, exaustiva sobre o meu ano na universidade e sobre o sistema que lá vigora. Depois, quando percebi que já tinha tudo viajado para o espaço, até fiquei tonta - o que fim e ao cabo, nem poderia distinguir muito bem, se era da doença ou do susto -.
Basicamente, a minha universidade é composta por um bando de pessoal de direita ou extrema direita, com medo de pessoas revolucionárias e inovadoras. Aliás, como disse Maria José Nogueira Pinto aos jovens desta minha geração: "Na vossa vida profissional, nunca ineventem nada. Por favor. Vão buscar modelos já usados noutros países e apliquem-nos à realidade portuguesa." Interiormente, soltei daquelas gargalhadas desavergonhadas, como se tivesse a beber uma coca cola e cuspisse tudo, directamente para cara da senhora. Mas claro, não mexi um músculo. Sou livre de pensar e imaginar tudo, mas respeito muito as opiniões e ideias dos outros. Mas, ai ai, será que sou obrigada a resignar-me a copiar? Não se pode criar, inovar? Se bem que há uam teoria qualquer da história de arte que diz que já tudo feito e criado, que já não é possível ter novas ideias. Ou seja, tudo o que eu penso que é criação é apenas recriação, é reinventar ideias que foram utilizadas noutras realidades e aplicá-las no presente. Mas, não poderemos considerar esse facto, uma efectiva criação? Passo a explicar. Os tempos mudam, evoluem. Não é posso copiar ideias, jamais. Mesmo que a base idealística seja a mesma, as circunstâncias serão sempre diferentes. Nem que tivesse passado apenas um dia, a ideia poderia ter a mesma base e até a mesma finalidade, mas certamente que iria desencadear diferentes resultados. Todos os dias as pessoas mudam, sentem-se diferentes. Não conseguimos fazer as mesmas acções, da mesma forma, todos os dias. Isso é, humanamente, impossível. Há dias em que odeio o cor de rosa, porque acho piroso. Noutros dias, acho que fico apetitosa e noutros, sinto que entrei no plateau dos "Morangos com Açúcar" e sinto-me fashion. Sei lá, é tudo tão rápido e subjectivo nos dias de hoje. As pessoas andam à velocidade da luz para arranjar a sua vida. Querem logo ter namorados, arranjar um carro, beber muito álcool, ter muita roupa. Ter muitos bens materiais. E os fracos, aqueles que têm menos para mostrar, são os que acabam por perder a corrida. Se, em cada dia, o nosso estado de espírito muda, aleatoriamente, será possível que as ideias de há dois séculos são plagiadas, tendo em conta a diferente realidade me que nos encontramos? Para não deixar de pensar nas tecnologias e tudo o mais, nas implicações que acarreta. No faroeste americano, os cowboys não mandavam e-mails às meninas dos saloons, ou pediam fotografias. Não precisavam de ficar em casa a bater uma punheta enquanto viam a foto da Betty em ligas. Pistola, chapéu, moedas. Atravessavam a rua e lá iam eles. A distância do nosso tempo, deturpa tudo. Afasta as pessoas. E elas, tornam-se zombies ambulantes, cercadas de gelo. É assustador.
Quando vim de Cuba, senti um choque que não imaginam. Lá, as pessoas falavam, cantavam na rua sem vergonha. Viviam com o básico para a sua saúde mental e física, sempre com um perrro por perto, rum, charutos e uma guitarra clássica. Era animação por todo o lado. O olhar e a língua latina, aliada ao andar de cada cubana sensual, fazia com que a desinibição fosse o sentimento dominante, e a proximidade à terra e ao povo, fazia-nos sair de nós próprios, descobrir novas formas de agir e interagir. Cá em portugal, as pessoas parecem mortas. Frias, distantes. Não se relacionam. Pelo contrário, buscam a distância das outras, procuram protecção. São mordazes e implacáveis para o outros, lançando, ao mínimo vislumbramento de algúem, um olhar fulminante de desconfiança.
Comecei as aulas há duas semanas e, digo-vos, não vejo a hora de ir para a minha vidinha. ter o meu dinheiro, fazer o que me dá na real gana, ficar um mês sem fazer nada se me apetecer. Viver a vida. Uma boa dose de loucura, nunca é demais.

setembro 24, 2005

"Morangos com Açúcar: Da pública à privada, eles têm a escola toda."

Merda. Tinha escrito um post actual, e nao sei o que aconteceu, aquilo foi tudo ao ar. Perdi tudo, que frustrante. Por isso, vou-me limitar a escrever mesmo o básico.
Início das aulas, secante. Cadeiras só de manhã. Às vezes nem isso. Muita teoria, pouca prática. Agora almoço fora, vou à fnac, passeio.
Doente. Garganta infectada por causa daquela tosse mal curada. Não sair este fim de semana.
"Morangos com Açúcar" mais fixe este ano, Joana Duarte antiga conhecida de infância.

Isto tá resumido demais. Mas não consigo escrever mais!!!

"Ananás com Vinagre: Férias de Verão IV"

"Uga buga para o cú de Judas: Mogadouro!"
E depois da intensa viagem de volta à realidade, passados uns dias, fui para o norte do nosso país, passar uns dias. Fui com a S., o N. e o B. Bem, a viagem durou quase tanto como ir de avião para Cuba. Bem por bem, voltava para lá..Mas foi muito bom, a P. alojou-nos muito bem, não faltou comidinha, nhami. Que saudades. Adeus frango e porco asqueroso! À noite íamos para o bailarico, depois para o bar, apanhar com fumo e dançar para a pista. Nunca nos deitávamos antes das 5 e meia, 6..E ao meia dia já estávamos acordados. Era uma maravilha. Mas foi tanta farra, que fiquei afectada da garganta e quando voltei para Lisboa, estava numa lástima. Andei nuns dias cheia de tosse. Cof cof. Mas não arredava pé. Não fui ao médico e pronto..que se há-de fazer. Sou teimosa, mas também tenho a quem sair.
As férias de verão estavam no fim. Eu já era uma finalista de curso. Tinha estudos, professoras e colegas - ai que saudades de alguns.. - à espera. Não tinha saudades da faculdade, para ser sincera. Gosto de aprender, de evoluir, mas o esquema de passar horas a escrever freneticamento que os profs diziam já era de outra era, para mim. A minha paciência já se está a esgotar e não vejo o dia de mudar a minha vida, de sair de casa, de arranjar trabalho, de revolucionar a minha vida. Chamem-me idealista, mas é à custa de ideias e pessoas destas que alguma coisa muda no mundo.

"Ananás com Vinagre: Férias de Verão III"

" Trinidad, Cienfuegos e Varadero"
Despedi-me de Havana com um belo espectáculo de Cabaret no Parisien, dentro do Hotel Nacional, o grande ícon de Cuba, onde, muitas celebridades e personalidades do inédito mundo da política, estiveram alojadas e bem estabelecidas. Lá estavam as meninas a apanhar gambuzinos, à uma e meia da manhã, de perna bem aberta para o caruncho arejar. Mesmo em frente do Hotel Tryp Habana Libre, onde eu estava alojada, ansiosa pela caminha King Size e mais meia dúzia de cenas de algum filme dobrado. Por acaso, calhou-me o "Homem em Fúria", uma interessante versão da América Latina, em que Denzel Washington falava com um charme digno de um filme erótico. "Oh sí..".
Saímos de Havana com atraso e com um grupo de gente, desde espanhóis a paraguenses, em direcção à zona ocidental de Cuba. Falei com uns jovens espanhóis, todos irmãos e lá fomos nós, no nosso autocarro, ver crocodilos, paisagens verdíssimas, com rasgos de chuva e um calor húmido que aquecia qualquer constrangimento que fosse do nosso consentimento. Que expressão mais estranha..
Recordo-me de tocar num pequeno crocodilo no viveiro - atado na boquinha, devidamente, claro -, de ver uns mosntros ao pé do lago, que cheiravam muito mal e tinham um péssimo aspecto. E, o mais giro, é que no restaurante, ao almoço, comi carne de crocodilo e soube-me tão bem. Mas, não abusem, não repeti a proeza. Apesar da carne saber a vitela, é sempre de se ficar um pouco enjoado quando se vê aqueles aligators todos porcos, sujos e badalhocos, a comer um peixe que já parecia da pré-história, com um cheirinho nauseabundo. O fascínio da vida animal selvagem é assim.
Andamos num barco, chamado Guamá, para chegar a um Lago enrorme, chamado Lago do Tesouro, onde visitámos um velho sítio, onde as tribos mais antigas da ilha viviam. (Que seca este post, parece os diários: "levantei-me, fiz xixi, cocei a micose.."..ups..censuraaa!!) O que convem dizer é que foi neste dia que o meu comportamento mudou, os meus ditos constrangimentos pessoais, ligados aos meus assuntos pessoais - e mais não digo, essas coisas não se dizem a qualquer pessoa, embora já saibam demasiado - (hum, esta música dos Chemical Brothers, a "Galvanize", é um espectáculo..) esvoaçaram e de repente, comecei a ver as coisas de um ponto de vista completamente diferente. Pois é. Porquê? Não digo. Não mandam em mim, o ar é de todos!! Ahah..
Trinidad. Hotel Brisas del Mar, de 4 estrelícias e com uma pulseirinha bermelhita, em que, supostamente, tava tudo incluído. Tinhamos mesmo o Mar das Caraíbas por detrás do Hotel, já que estavámos mesmo no Sul de Cuba. Que pena, não é? Que chatice.. Lá teria eu de dar um mergulho naquelas águas escaldantes das Caraíbas.. Ui..Era escaldante era, era tão quente, que dava uma pena estar ali de bikini vestido. Ah e sozinha. Se a praia tivesse menos gente lá de dia, com menos cubanas a pedirem fatos de banho, sabões, roupa e shampoos, talvez o cenário fosse um pouco mais romântico. Ah claro, também se não existissem aqueles cubanos de muitos pêlos no peito, muito escuros e de óculos de sol à camionista a oferecerem a sua casa para um jantar de marisco, por 10 pesos. Eu disse oferecer? Qual quê. A frase "Não há almoços grátis", nunca se aplicou tão bem a um sítio, como a Cuba. Economistas do mundo, sugiro, urgentemente, que vão a Cuba para entenderem o chupismo turístico que se passa lá. Até uma garrafa de água vazia me pediram. Vejam só a necessidade daquela gente. E, quando lhe demos a garrafa, parecia que tinham ganho a lotaria. Eheh..Há pessoas neste Portugal que não têm noção da miséria que se passa noutros países e, digo-vos abertamente, é uma pena. Pessoas que nem sabão têm para se lavar e nem podem comer marisco porque o Fidel não deixa. "Solamente para turistas". Mas, a cada dia que passava, admirava mais aquele povo que nutria, verdadeiramente, um carinho e uma admiração especiais pelo seu líder. Não é como aqui em Portugal, que ninguém gosta de nada, não há convicções, nem confiança, nem idealismo. Só desilusão, mas também ninguém apresenta alternativas, já que só sabem é criticar. Lá, são seguidores de alma e corpo. O que, por um lado, é muito louvável, sem dúvida. Mas...tudo isto por causa do hotel. Fomos jantar e vocês nem vão acreditar. Pedi uma simples garrafa de água à senhora do buffet e não é que ela me foi dar um copo de água, com gelo?!?! Ai, o meu progenitor, passou-se e ela respondeu: "No tenemos água aqui..No hay..". Ahaha..É para rir..Uma pulseira com tudo incluído e o bem natural básico, e essencial, não há. Se quero água, tenho de beber da torneira. Bem, lá tivemos de ir comprar água..Vejam só se isto não é o cúmulo do exagero? Aldrabões...Ai ai...O hotel era jeitoso. Tinha karaoke, uma sala de jogos (como tudo, desde Trivial, passando pelo ping pong e chegando ao Uno), um palco, piscina..bla bla..e era um hotel com muitas casinhas na rua, com os quartos. Era um espaço agradável e bem tratado, com balouços e relva. Gostei muito do sítio, mas aquela cena da água é mesmo para esquecer.
Trinidad é pobre. Casas, amontoadas, de várias cores, em cima de terra batida. O centro já tem alcatrão, mas as pessoas pediam-nos tudo e dava-me uma certa pena, não ter nada para lhes oferecer. Da próxima vez que for a Cuba, levo comigo aqueles bugigangas que não uso, nem ligo. Ao menos, que as pessoas que precisam, que façam proveito. Museu Romântico. Mulheres a venderem colares feitos de sementes a poucos pesos. Rendas à venda na rua, anéis, pulseiras e pretas cubanas em madeira. Perdemo-nos. Aliás, a guia perdeu-nos. Inacreditável, não é? Os 6 portugueses viram-se no meio da cidade, sem virem o resto do grupo. Só avistámos um casal da Argentina (acho eu) e ninguém sabia o que fazer. Ficámos ali uma hora a vaguear. Fomos à agência Cubatur, que contactou a guia e, lá depois, o choffer nos foi buscar. Eheh..ai os portugueses..O almoço foi frango, para variar, com gelado na sobremesa, para variar. Ah e bebi coca cola. Como a bebida era à escolha, já agora também não variava..Tudo em sintonia. Fui à praia com meus recém amigos espanhóis. Ui a água era mesmo quente. Nunca tomei banho em água tão quente, garanto-vos. Era como tomar banho de água quente em casa, só que ali tínhamos mar que nunca mais acabava. Não era transparente, mas era melhorzita que as praias da linha. Tinha muitos cubanos, muitos negócios ali, muitas jovens platinadas a querer seduzir os turistas. Mas isso é a tal promiscuidade fascinante de Cuba, sem a qual tudo o resto pareceria uma mera instância turística. Cultura, meus caros. É ela que define as pessoas.
A noite foi pouco dinâmica, apenas reforçou os laços afectivos com algumas pessoas do grupo e no dia seguinte, partimos. Passámos por Cienfuegos, (Che, tus ideas perduran!) conversei o tempo todo com o A. e moquei com os filmes dobrados. Era uma viagem de três horas e meia até Varadero, - ah, finalmente - o chamado paraíso turístico de Cuba. Com muita chuva pelo caminho, pessoas à berma da auto pista, esperando transporte. Muitos cartazes políticos, muitos espaços verdes, muita pobreza. Aquela típica de Cuba que permite que o seu charme se sobreponha a muitos dos países civilizados que já conheço. Eu e o A. já falavámos de tudo e íamos para o mesmo Hotel em Varadero, logo, parceria para a praia, as noitadas e as bebidas não me ia faltar.
Varadero. Casas. Hotéis. Não vi a praia. Por isso, só quando cheguei ao quarto e deixei lá as minhas coisas é que pude espreitar aquela maravilha, que se situava nas traseiras do Hotel. E que maravilha. O sol já se estava a pôr e aproveitei para escrever o meu nome na areia, correr um pouco para sentir aquela areia fina e macia, molhar os pés na água tépida e cristalina. Ai que bom. Uma onda de nostalgia invade-me neste momento, neste preciso momento em que relembro esse dia. Lembro-me que o céu estava alaranjado, com algumas nuvens, tão bem desenhadas, que formavam coisas. Já não sei o quê ao certo. Talvez animais, talvez grãos grandes de arroz e faziam-nos entrar num mundo de imaginação sem fim. A praia era acolhedora, não muito grande, com chapéus de palha. Palmeiras e muita vegetação na parte traseira da praia, decorava a praia com vida e frescura. Cadeiras e espreguiçadeiras brancas de plástico, lá estavam abandonadas, agora que a maior parte dos turistas deveriam estar a preparar-se para jantar. Não era uma praia. É totalmente proibido em Cuba - o que acho muito bem, diga-se de passagem. As praias são espaços de todos para todos, ao contrário do que aconteceu no regime de Baptista, nos anos 50, em que os americanos que viviam no zona nobre de La Habana, Miramar, tinham uma praiazinha privada e só a elita lá podia entrar. Com a revolução tudo mudou e tudo é dos cubanos. A igualdade e liberdade de direitos move-me, sempre moveu e, quando cheguei a Cuba senti, mais do que nunca, esses valores presentes.
Nos dias seguintes, andava por ali. A desfrutar das maravilhas da praia, com uma água azul turquesa, onde os peixinhos andavam à volta dos nossos peixes, mordendo-nos até, como se dessem beixinhos. Lá ia bebendo uns "Mojitos", umas "Cubas Libres", indo depois andar de kayake e banana com o A. Sol, água, muita comida, bebida. À noite, ver o espectáculo no mini teatro, ia à discoteca dar uma espreitadela, passear pela piscina ou na praia. Um conselho: levem repelente. E não falo de repelente normal, mas de repelente específico para exóticos. Fui passear 5 minutos à praia e no dia a seguir, tinha picadelas nos braços, nos pés e em todo o lado que tivesse estado destapado na noite anterior (o que até era bastanteee, dado o calor que lá está sempre..). Parecia que estava com varicela, com borbulhas vernelhas em todo o lado. Pus repelente mas não deu nada. Mais valia ter ficado quieta.
"Hotel Sol Palmeras, all inclusive." Este era o slogan dos espertalhaços e por acaso até era verdade, eles tinham muitas actividades. Desde aulas de ginástica, stretching na praia, tai chi, quizes, volleyball, tiro ao alvo..a malha..Ya, isso. Mas, mesmo assim, não dispensei aquela praia nunca, indo só uma vez à piscina com o A. Muitos sumos de Piña e coca cola.
Apesar de já termos visto algumas coisas de Havana, tirámos um dia para lá ir e fomos ver o Museu da Revolução. Eheh...interessante, mas muito mal feito. Enfim, estávamos em Cuba, não estava à espera de muito. Ficámos lá três horas. Tem tanta informação, tantas letras em miniaturas, sem uma ordem de consulta explícita, que passado algum tempo qualquer pessoa minimamente viva, boceja e anseia por uma cama bem fofinha. No meu caso, era a praia. Já estava bronzeada. Foi um dia cheio de emoções, confesso. Até se perdeu um cartão de multibanco.
Adeus Varadero, adeus Cuba. Já me sentia sozinha desde que o A. tinha partido, nunca iria esquecer a presença dele e tudo o que representou para mim naquelas férias. É aquele toque especial. Fiz as malas com tristeza, tomei banho pela última vez na praia. Disse adeus aos lagartos, - quer dizer, interiormente bolas, não falo com os lagartos, ainda não atingi esse grau de insanidade - olhei com ternura para a sala de refeições e para as toalhas de padrão frutoso. Arranjei-me, almocei e esperei. Estava chateada, muito triste e aborrecida. Tinha bebido Cuba durante duas semanas e lembrei-me dos camaleões, que mudavam de côr cada vez que mudavam de sítio, camuflando-se. Era uma máscara, um disfarce para os predadores. Todos nós temos os nossos disfarces, é inevitável. Mas cada vez que usamos uma máscara diferente, e depois a deixamos, parte de nós muda e não é possível voltarmos a ser o que éramos antes de usar essa mesma máscara. É mais fácil ficar com essa máscara, do que a tirar para voltar a pôr outra. Ou tirar, para pôr uma velha que já conhecemos e que temos de usar na rotina do dia-a-dia. Tirar algo que nos eleva, para colocar algo que nos faz sentir ao nível mais básico desta curta vida. Foi o que senti. Os problemas tinham ficado em casa e quando lá chegasse, eles voltariam. A angústia que tinha sentido na véspera da minha partido para aquela terra fenomenal, já se tinha dissipado à muito tempo. E, nesse preciso momento em que reflectia, entendi que era demasiado anti-rotina, anti-estabilidade, anti-monotonia, para viver no mesmo sítio para sempre. Viajar rejuvenesce-me, dá-me outras possibilidades de explorar, de fazer coisas irrepetíveis e únicas. É isso que faz viver, não é? O insólito, o não natural, o não visto. O não ser na concepção que conhecemos. Toda a gente tem problemas. Verdade. Mas nem toda a gente, arranja as melhores soluções para esses problemas. O mundo é tão grande, há tanta gente com problemas tão maiores e mais graves, tanta beleza para desbravar. Eu sou apenas mais um grãozinho de areia, deste vasto planeta. Ou seja, sou insignificante. Toda a significância que me posso atribuir, advem do meu estado de espírito e do meu ego. Afinal de contas, eu vivo comigo todos os dias, sou a protagonista do meu filme. Filme que eu crio todos os dias e mudo apenas o que me apetecer.

setembro 18, 2005

"Ananás com Vinagre: Férias de Verão II"

" Sabor Moralessss"
Havana pareceu-me suja, degradante com as imensas casas da época colonial a caírem aos bocados. Muitas delas nem tinham já varandas e os cubanos ali estavam, numa postura exibicionista, a ver os turistas a passar. Ponderei sobre a hipótese de aquelas pessoas serem felizes ali, mas mesmo apesar de não terem as condições que um português médio tem, com chicas a apanhar gambuzinos e rufias a querer apalpar turistas muitoo inocentes, como aqui a vossa amiga, percebi que o regime comunista era vivo partilhado e respeitado por todos. Claro que há sempre excepções, nada é absoluto em todo o lado. Nem mesmo no regime de Fidel, no qual a expressão "Patria o Muerte" predomina, em cartazes e paredes antigas. Fidel é, de facto, amado em Cuba, apesar de ser tudo estatal e de não terem luxos, a alegria dos cubanos é contagiosa. A forma como as mulheres abordam homens e mulheres (perdi a minha oportunidade de expandir a minha sexualidade..paciência, não gosto de pêlos..), as mini saias em todos o lado, os tijolos ambulantes americanos, a variedade étnica e racial que ali é visível. Cuba é fascinante e apesar de Havana me ter parecido Banquecoque no primeiro dia, com cheiro a sexo e meninas em todos o lado, não esquecendo os polícias que vigiavam os cubanos mais suspeitos que passavam, senti-me viva por não permanecer na estagnação do meu meu mundinho português, que para além de ser pequeno fisicamente, é pequeno em tudo. Os cubanos saõ pobres, mas ao menos têm paixão, têm o sangue a correr nas veias e não têm pudor de nada. Convenhamos, meus amigos, é sempre um desafio maior.
Saímos de Havana, percorremos a parte oriental da ilha, andei de bói, vi um dos maiores murais do mundo, observámos os mogotes - fenómeno natural da época dinossáurica que só subsiste nos dias de hoje em Cuba e na Malásia, no continente asiático - cantei, dancei, comei kilos de frango, vi muita gente a pedir boleia, muitas chuvas tropicais saborosas naquele calor húmido, comprámos, bebemos água, embarcámos para a praia mais bonita que tinha visto na minha vida.
"La Habana...Ui.."
De volta à capital depois de algumas más disposições e muita trovoadaa. Sim, vocês não têm noção do que era. O céu ficava tão negro e havia tantos relâmpagos que parecia que vinha aí um ciclone para derrubar tudo. Felizmente, era apenas um maravilhoso espectáculo da natureza. Tive imensos flashs nessas alturas..Só me apetecia abrir a porta da carrinha em andamento, saltar para cima de um cubano maluco, pegar-lhe na mão e desatar a correr pela estrada a fora, completamente descalça. Sentir aquela chuva tropical, lavar a roupa suada, fazer escorrer cada fio de cabelo, correndo ao ritmo do "Son", a melodia cubana. "Comandanteeeeeee, Che Guevaraaaaa...". No dia a seguir, visitámos Habana Vieja, eu comprei um gorro verde com a estrela vermelha e dizia que era uma revolucionária. E sou, adoro sair dos limites. Em Cuba, ninguém me chateava por dizer que era fãn de Marx. Eheh.
Música, feira, a catedral, os coco taxis. Muita pedinchice, era propinas para tudo e para mais alguma coisa. Nunca tavam sempre satisfeitos, até os guias pediam propinas. Irra, isto é uma cambada de chupistas, é o que vos digo, só faltava roubarem-me a roupa no meio de Habana Vieja e ainda me pedirem dinheiro.

setembro 17, 2005

"Ananás com Vinagre: Férias de Verão"

" Hyper Ballad.."
Na véspera da aventura, um raio mágico iluminou o meu quarto.
Adormeci no dia 7 de Agosto, a ouvir uma das minhas banda favoritas: Muse. Na escuridão do meu espaço, apenas o candeeiro de lava, feito de bolas elásticas azuis, imersas na água tépida e turva, se fazia sentir e eu olhava o tecto, de olho aberto e irrequieto, revirando as pálpebras, enquanto Matt Bellamy esguichava um agudo tremido. Já passava da uma e às 6 teria de estar de pé. Tomar banho, acabar de preparar a mala e fechá-la, comer, apanhar um táxi para o terminal.
A música repetia-se, no seu looping mecânico que cada nota deixada de existir acusticamente, e eu invadia outro mundo, envolta no meu cobertor vermelho e nos lençois rendilhados, de um branco bestialmente belo, finos e frescos.
Agora anseio aquelas duas semanas que passei naquela ilha das Caraíbas, mas nessa noite, pressentia algo de mau e um vazio se apoderava de mim, como se não houvesse escapatória possível. Uma escapatória de mim mesma, que já me tinha revelado mais forte do que julgava, mas cujas probabilidades de sucesso e encontro, seriam mínimas. Estava mentalizada para o pior. Surpreendentemente, todos os meus desequílibrios foram abandonando o meu corpo ao longo de cada dia que passava naquele húmido clima.
Perdi noção da luz azulada e da voz que agonizada por ajudava, entrando num estado de anestesia.."Cuba..".
"8 horas e meia.."
Acordei num frenesim, tomei um banho, abalámos para o aeroporto..Blá, blá..Check In.."Hum, só vejo velhadas"..AhAh..Agora de repente parece que estou no "Diário de Sofia". Bem, o que é interessante é referir a viagem de avião. Em vez de o filme ser "9 semanas e meia", poderia muito bem "8 horas e meia". O voo foi às 11 e cheguei às 15 horas de lá, ou seja, às 20 de cá, já que a diferença é de menos 5 horitas lá. Desde "O novo diário de Bridget Jones" até a um Arroz de Pato como principal refeição, que tinha apenas umas rodelas de chouriço disfarçadas no camuflado uniforme do arroz, o meu rabito ficou achatado, mais parecendo um quadrado em pleno processo de transformação. Nunca tinha passado tanto tempo num avião..Levantei-me uma ou duas vezes toda a viagem, já que haveria algumas turbulências de vez em quando..Olhava a janela, e o algodão do céu me fazia pensar em nele, na dôr que carregava quando ouvia a expressão "I like you" e na dúvida do meu estado de espírito quando regressasse a portugal, daí a duas semanas e um dia.
" Face off, as duas caras metade"
Muito muito verde, muita palmera naquela arbustidão selvagem, uma mini- estrada com carroças a ser puxadas por burros e um mar de uma beleza inefável, no azul turquesa que me puxava pela janela do avião abaixo.
Aterrámos no aeroporto de Varadero e digo-vos. Passei por um teste engraçado na cabine de controlo do passaporte. Os portugueses que tinham vindo no Boeing 767 permaneciam durante muito tempo, em filinha indiana, à espera do seu momento de avançar para a cabine mágica, com o seu cubano de ar simpático, no seu uniforme verde seco. Logo, logo, comecei a reparar no imenso tempo que se demorava ali, pessoas que lá ficavam vários minutos. Felizmente, a mim, só perguntaram "Vienes sola?" e "Que haces?", apesar de o senhor de pronúncia semi cerrada não deixar de olhar para a fotografia do passaporte sistematicamente e para mim, alternadamente, vigiando o cabelo, a sua côr e os meus olhos. Que chatos, hãn?
Estava calor, muito calor. Muito húmido, parecia que automaticamente se transpirava naquele país. Olhares masculinos, não se aceitavam euros, e uma sensação, transmitida pelo beep de uma mensagem, invadiu-me o coração, levando-me a Havana durante mais de duas horas, no vazio perdido que tanto temera.
Cartazes de Fidel e do sexy Che Guevara, apelos ao predomínio da pátria e do comunismo, fizeram-me entender que a distância geográfica, implica outro tipos de mudança, que nunca serão totalmente percepcionados e percebidos unicamente através dos meios de comunicação de massa. Nunca é a mesma coisa ver uma imagem do deserto e estar, efectivamente, nesse mesmo deserto. Mulheres de perna aberta na berma da estrada, exibindo os seus quartos de mini saia, gentes de muias cores, descalças ou não, à espera de boleia. Dezenas.
Vejo os abutres, até entrarmos numa cidade pobre e numerosa, junto ao mar, com dezenas de carros amercianos dos anos 60, táxis bicicletas e cubanas platinadas, anafadas, de barriga ou de bébé aos braços, na sua atitude lasciva e latina.