setembro 17, 2005

"Ananás com Vinagre: Férias de Verão"

" Hyper Ballad.."
Na véspera da aventura, um raio mágico iluminou o meu quarto.
Adormeci no dia 7 de Agosto, a ouvir uma das minhas banda favoritas: Muse. Na escuridão do meu espaço, apenas o candeeiro de lava, feito de bolas elásticas azuis, imersas na água tépida e turva, se fazia sentir e eu olhava o tecto, de olho aberto e irrequieto, revirando as pálpebras, enquanto Matt Bellamy esguichava um agudo tremido. Já passava da uma e às 6 teria de estar de pé. Tomar banho, acabar de preparar a mala e fechá-la, comer, apanhar um táxi para o terminal.
A música repetia-se, no seu looping mecânico que cada nota deixada de existir acusticamente, e eu invadia outro mundo, envolta no meu cobertor vermelho e nos lençois rendilhados, de um branco bestialmente belo, finos e frescos.
Agora anseio aquelas duas semanas que passei naquela ilha das Caraíbas, mas nessa noite, pressentia algo de mau e um vazio se apoderava de mim, como se não houvesse escapatória possível. Uma escapatória de mim mesma, que já me tinha revelado mais forte do que julgava, mas cujas probabilidades de sucesso e encontro, seriam mínimas. Estava mentalizada para o pior. Surpreendentemente, todos os meus desequílibrios foram abandonando o meu corpo ao longo de cada dia que passava naquele húmido clima.
Perdi noção da luz azulada e da voz que agonizada por ajudava, entrando num estado de anestesia.."Cuba..".
"8 horas e meia.."
Acordei num frenesim, tomei um banho, abalámos para o aeroporto..Blá, blá..Check In.."Hum, só vejo velhadas"..AhAh..Agora de repente parece que estou no "Diário de Sofia". Bem, o que é interessante é referir a viagem de avião. Em vez de o filme ser "9 semanas e meia", poderia muito bem "8 horas e meia". O voo foi às 11 e cheguei às 15 horas de lá, ou seja, às 20 de cá, já que a diferença é de menos 5 horitas lá. Desde "O novo diário de Bridget Jones" até a um Arroz de Pato como principal refeição, que tinha apenas umas rodelas de chouriço disfarçadas no camuflado uniforme do arroz, o meu rabito ficou achatado, mais parecendo um quadrado em pleno processo de transformação. Nunca tinha passado tanto tempo num avião..Levantei-me uma ou duas vezes toda a viagem, já que haveria algumas turbulências de vez em quando..Olhava a janela, e o algodão do céu me fazia pensar em nele, na dôr que carregava quando ouvia a expressão "I like you" e na dúvida do meu estado de espírito quando regressasse a portugal, daí a duas semanas e um dia.
" Face off, as duas caras metade"
Muito muito verde, muita palmera naquela arbustidão selvagem, uma mini- estrada com carroças a ser puxadas por burros e um mar de uma beleza inefável, no azul turquesa que me puxava pela janela do avião abaixo.
Aterrámos no aeroporto de Varadero e digo-vos. Passei por um teste engraçado na cabine de controlo do passaporte. Os portugueses que tinham vindo no Boeing 767 permaneciam durante muito tempo, em filinha indiana, à espera do seu momento de avançar para a cabine mágica, com o seu cubano de ar simpático, no seu uniforme verde seco. Logo, logo, comecei a reparar no imenso tempo que se demorava ali, pessoas que lá ficavam vários minutos. Felizmente, a mim, só perguntaram "Vienes sola?" e "Que haces?", apesar de o senhor de pronúncia semi cerrada não deixar de olhar para a fotografia do passaporte sistematicamente e para mim, alternadamente, vigiando o cabelo, a sua côr e os meus olhos. Que chatos, hãn?
Estava calor, muito calor. Muito húmido, parecia que automaticamente se transpirava naquele país. Olhares masculinos, não se aceitavam euros, e uma sensação, transmitida pelo beep de uma mensagem, invadiu-me o coração, levando-me a Havana durante mais de duas horas, no vazio perdido que tanto temera.
Cartazes de Fidel e do sexy Che Guevara, apelos ao predomínio da pátria e do comunismo, fizeram-me entender que a distância geográfica, implica outro tipos de mudança, que nunca serão totalmente percepcionados e percebidos unicamente através dos meios de comunicação de massa. Nunca é a mesma coisa ver uma imagem do deserto e estar, efectivamente, nesse mesmo deserto. Mulheres de perna aberta na berma da estrada, exibindo os seus quartos de mini saia, gentes de muias cores, descalças ou não, à espera de boleia. Dezenas.
Vejo os abutres, até entrarmos numa cidade pobre e numerosa, junto ao mar, com dezenas de carros amercianos dos anos 60, táxis bicicletas e cubanas platinadas, anafadas, de barriga ou de bébé aos braços, na sua atitude lasciva e latina.

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