abril 05, 2007

!26! (I)

"Os homens pequeninos não chegam a todo o lado.."
"Rua da Palmeira? Ok, vou já aí ter! Beijo!". Subi disparada a Rua Garrett a todo o gás. As calças de ganga rasgadas, apelidadas de calças "à sem-abrigo" com inúmeros buracos, apertavam-me as pernas arredondadas que aqueciam à medida de cada passada. A respiração ofegante já se fazia sentir, as bochechas rosadinhas transformavam-me numa espécie de papoila desvairada, que saltava de esquina em esquina, de rua em rua, à procura de uma placa.
Ao contrário do que seria de esperar, o frio apertava. Vislumbrei de relance o Miradouro de São Pedro de Alcântara. Ao longe estava um jogo de luzes espalhadas pela panóplia de monumentos e edifícios que faziam de Lisboa uma cidade tão assimétrica como interessante. Saquei da mala o telemóvel e reparei que a mão estava inebriadamente gelada. "Não sinto nada".
Continuei, passando pelo Pavilhão Chinês. Absorvi os estranhos que me rodeavam, palavras estrangeiras que se isoladas poderiam possuir um significado qualquer, em conjunto não poderiam ter qualquer espécie de significado. "Vite, vite". Sigo até à Praça do Príncipe Real, com o ar a cortar-me as coxas arroxeadas e a respiração a moldar aglomerados-miniatura de algodão ao meu redor.
"Ora..Rua da Palmeira..ah!" Enveredo pela rua íngreme e escura, à procura do número alvo. Avisto umas pessoas e sigo-as até uma porta que daria lugar a uma sala acolhedora e calorosa. Por essa altura estava completamente enregelada, mas com a média luminosidade da sala e a decoração castiça do espaço, senti-me magnetizada e avancei, após receber um sorriso como um sinal da minha presença ter sido reconhecida naquela sala.
(To be continued)

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