agosto 08, 2006

Uxmal e luzes nostálgicas

Saímos de Chichen Itzá e percorremos mais um belo pedaço do caloroso México, sempre com aquela ânsia de conhecer algo de novo. O almoço tinha sido bastante satisfatório, com muita massa, arroz e uns frijoles de chorar e querer mais (não que eu goste de chorar mas pronto. Na verdade, não gosto mesmo..mas às vezes é inevitável..e porque carga de água é que estou a falar disto?).
Um afável papagaio cruzou-se no meu caminho, aliás eu é que me cruzei com ele, e senti aquelas penas coloridas, de um verde vivo a trespassar as camadas adiposas da minha pele - hum, um misto de poesia com discrição anatómica - com uma suavidade que me fazia esquecer, por instantese, a correria atarefada que teria de fazer até chegar à carrinha branca número treze, de vidros fumados e ar condicionado intenso. "Heyyyy". Ups, já me esqueci que tinha de ir. Lá fomos, com o César, de careca brilhante e intensos bravos peludos, de um branco lixívia, juntamente com David, o cheínho motorista de aparência anafadita e indígena, com os meus mega hits musicais, que colocava no leitor de cd's enquanto não chegássemos ao destino seguinte. Entrámos na carrinha e, sentinho um chumbo de razoáveis dimensões a pesar-me nos gémeos, semicerrei os olhos, deixando de ver as sombras coloridas das borboletas que pintavam os céus, ao som de um monte de anedotas sobre "el matrimonio" e os piris-piris de uma vida convencional. Uff..Siesta time.
Provavelmente demorámos pouco mais de uma hora e meia até chegar a Uxmal, outra unidade de ruínas arqueológicas, das mais antigas e conhecidas do México, com o seu quadrado Templos das Monjas e as iguanas gigantes que habitavam perto de galhos gigantes de árvores amazónicas. Ficámos alojados numa espécie de cabanas, pequenas casas de alpendre e cadeirão de madeira à porta, - como, aliás, pude constatar existir em grande número na sociedade cubana - no meio de um espaço verde quase selvático, ladeado de uma piscina pouco tratada de água coberta de ervas e restos naturais - que, sinceramente, nem me esforcei muito em tentar saber o quê -. Cada casa, mini vivenda, tinha dois quartos e no seu interior, uma enorme casa de banho - a maior que já tinha encontrado desde que tinha chegado a México, dotada, inclusivé, de uma fabulosa hidromassagem.
Lembro-me de chegar a quarto por volta das cinco da tarde, pousar as coisas, ligar a tv e deitar-me na cama fofa, especada a observar as actrizes louras da "Heridas de Amor". Observava as tragédias de um mulher que, apesar de querer ser missionária, se debatia com um sentimento de amor que a invadia. E como se não bastasse, o dito cujo parecia ser um sem escrúpulos da pior espécie, envolvido em actividades ilícitas que afastavam a bela senhora do seu caminho. Amores e desamores, tragédias, traições, ahhh..O dramaaaa. Bem, mas isto agora não interessa nada. Passemos ao essencial e que acabei por não contar no meio dos meus relatos imensos e confusos que não facilitam nada a comunicação. Olhava para a televisão mas já não a via, já não sabia ver o que estava por detrás daquelas imagens ou daquelas falas, e mesmo ouvindo o que eles diziam, apenas ouvia algo de muito difuso. Já tinha descolado do México e aterrado na minha casa, sentia-me lá, movia-me no meio da minha vida indefinida, sem saber o rumo. A bússola estava avariada e os instintos são enganadores. Não estava bem. Fechei os olhos e decidi esquecer o que me afligia, quis esquecer-te, descansar o corpo e escapar de mim mesma enquanto podia, antes de sair para as grandes luzes ofuscas e difusas.
Tomei banho, arrumei-me e perdi-me. Cheguei 5 minutos atrasada à entrada das ruínas e isso fez-me ter que perguntar pelo guia e pelo grupo de espanhóis que acompanhava. Lá os encontrei e sentei-me, meio fechada e isolada, à espera do espectáculo que em breve nos assombraria os olhos e a mente. Uma longa descrição narrada num espanhol fechado, onde o deus Chac, o deus da chuva, adorado pelo povo Maia, era imensamente referido, acompanhava a chuva de luzes que nos era apresentado, mesmo diante dos nossos olhos. Durante uma hora, acompanhei esse movimento, de máquina fotográfica na mão e pensamento longínquo, tentava não persistir com estas ideias que me feriam e colocavam numa ilha, roeada por um mar gelado, sem qualquer possibilidade de salvação possível.
Jantar. Ao ar livre, apenas com um telhado de palha, um som dado por três mariachis e caras sérias e insdispostas. A sério, podem não acreditar mas dei por mim a pensar "Dasse, que treta de espanhóis que não sabem apreciar uma bela refeição de boémia e esboçar um mero sorriso encantador." Saí do jantar directamete para o me quarto, já que no meio do nada, não poderia haver nada para fazer. Pensei, pensei e pensei. Adormeci, vencida pelo cansaço (antes disso tinha tirado umas fotos, memórias visuais é que coisa nunca me vai faltar..e um vídeo, mas não o consegui enviar e tal..blá, blá, blá..lá estou eu..).
07/08/06
Levantei-me cedo, arrumei as tralhas e dirigi-me ao tecto de palho ara comer o pequeno almoço. Desta vez fiquei com o casalinho do sul de Espanha, a tal rapariga de sorriso infantil e cabelo pintado, que me chamou nos seu oculinhos fragéis. Conversei, falei do meu estágio na televisão e, no meio de um sono perdido, seguimos para Kabal, umas mdestas ruínas, com grandes incrustações do deus da chuva, o já referido Chac. Fotos, passeios e preocupações. A beleza não tinha fim mas assim continuei no meio de nenhures e segui para Uxmal, o lugar já visto na noite anterior, com luzes e efeitos sonoros. Perdi-me naquele calor, observei tudo com menos atenção, dolorida com a picada do chili na minha mão (ainda passámos por uma casa maia e, ao provar uma tortilha mexicana com chili, deixei escorrer picante para a minha mão. Lavei-a mas, curiosamente, isso não bastou. Pelos vistos, o chili não pica só na boca mas em tudo o que toca..). Felizmente, os primeiros socorros eram eficientes e uma pomadinha resolveu o problema...

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