agosto 26, 2006

Dos Maias aos Espanhóis

Depois de vistas as ruínas em Uxmal, o calor apertava e a vontade de uma fresquinha coca-cola e um pratinho de frango aromático bem que crescia e fazia crescer água na boca. Almoçámos ali perto, apesar de já nem me lembrar onde - vejam só como anda a minha memória - e seguimos para Mérida, uma bonita cidade colonial, símbolo da vinda dos espanhóis à Nova América e ao México, um misto de raças e indígenas. (Ah, já me lembrei..almoçámos na Hacienda Uxmal, o sítio onde tinha ficado a dormir, debaixo do tecto de palha..como é que eu não me lembrava..)
Mérida. Abri os olhos, ensonada, quando chegámos à parte industrial da cidade, com fábricas e armazéns. A cidade foi fundada pelos espanhóis, esses malditos cabrões que fizeram questão de invadir toda e qualquer terra da América Latina (tou a brincar obviamente..eu até gosto de espanhóis..). No século XVI, dotados de armas, espadas e uma ambição de meter medo ao susto, os espanhóis expulsaram os Maias e construíram uma cidade com a típica praça central que há em tantas outras cidades coloniais. Por lhes lembrar a famosa cidade de Mérida em Espanha, baptizaram a nova povoação com esse nome e assim ficou.
Carros, pessoas, movimento. Parecia que estava finalmente a sair da selva, com os seus ramos destroçados pelos furiosos furacões e os gigantescos arvoredos que nos pareciam proteger do céu instável. Depois de passarmos a zona industrial, entrámos no centro da cidade, em ruas que estavam organizadas numericamente. O nosso destino era o Holiday Inn. Depois estávamos livres para fazer o que quiséssemos. Já eram quase quatro horas e o calor tornava o nosso corpo peganhento. As altas temperaturas no interior da Península de Yucatán mexiam connosco, excitavam as mentes e davam-nos uma fúria de viver inabalável. Deve ter sido por isso que uma semana no México não me chegou..
Passámos por ruas estreitas, sinais de trânsito amarelas e carripanas velhas de caixa aberta. Ninguém nos podia ver realmente, por causa dos vidros fumados, o que nos dava o poder de observar tudo ao pormenor sem sermos minimamente descobertos. Sempre gostei de ser uma observadora compulsiva. Olhar obsessivamente para as coisas à minha volta para perceber melhor o que se passava, como tudo funcionava. E ali, numa situação particular, em que estou num mundo completamente novo, com uma cultura inteira para ser descoberta, mais intensa era essa vontade em mim, que me despertava muita adrenalina. A pobreza era notável, mas nada que me causasse uma séria repugna. Pelo contrário, tinha respeito por aquelas pessoas que, apesar de serem exploradas, tinham que sobreviver e tentar ir mais longe para ter tudo o que necessitavam ter. Não é uma questão de ambição, mas pouco mais do que sobrevivência. Viver condignamente, como toda a gente. As casas tinham cores berrantes e os cães, ossudos e desnutridos, passeavam-se sem rumo.
Chegámos ao hotel. Combinei com os espanhóis irmos ao centro da cidade, à famosa Calle 60 para as lojas que vendiam as coisas castiças da região. Optei por apreciar a cama fofa de lençois brancos e ver alguma televisão. Seinfeld. Fechei um pouco os olhos, tirei fotos e, mais tarde, desci. Fartámo-nos de andar, durante horas. Fizemos compras e fiquei a saber que os Mexicanos eram todos simpáticos porque eu era muito "guapa". Vejam lá ahaha..Discurso de um vendedor..Devia ver se me convencia a comprar mais coisas da loja dele..Bebi uma piña colada na esplanada, no meio de uma conversa que não consegui descodificar sobre tapas e tal..Entrei muda e saí calada..
Noite. Chuva. Acabei por jantar sem companhia no buffet do hotel, vendo a chuva cair, esperando adormecer para que um novo dia pudesse surgir.
08/07/06
Abalámos e não tive a oportunidade de me despedir dos três espanhóis que iam a Palenque. Recordei a última vez que os tinha visto. Foi na esplanda ao pé da praça central. Nunca mais os vi e tive pena.
Era o último dia do circuito. Íamos a um cenote tomar banho, neste caso o cenote Ikkil, perto de Chichen Itzá. Os cenotes eram os poços de água, fenómenos naturais de entre a natureza que permitia aos Maias fazer um sem número de coisas como tomar banho, retirar água para satisfazer necessidades naturais..O lugar era idílico com uma água azul escura e profunda, onde peixes grandes e pretos se destacavam. Como se fosse um poço, tinha uma forma circular com vegetação a toda a volta, com pequenas borboletas que dançavam por ali e umas ligeiras quedas de água refrescavam os olhos.
Tirar fotos, ficar de bikini e ala atirar-se para a água, que se faz tarde..Atirei-me para a água passado um bocado a tentar habituar-me à temperatura da água..Americanos, japoneses e outros tantos andavam por ali, de sorrisinho rasgado e máquinas à prova de água. "Es flia?"..Er, um pouco..Depois daquele paraíso tropical, onde nadei até não poder mais, sequei-me e comprei uns souvenirs. De seguida fomos almoçar todos a um restaurante, onde já mais liberta, dei a conhecer aquela faceta tão espontânea que acaba por assustar tanta gente...Procurei iguanas mas fugiam..Tirámos uma foto de família e fomos para Valladolid. Infelizmente, não pude ver muito..Meia hora dentro de uma loja..Isto diz-vos muito? Pois, a mim também não.

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