julho 14, 2006

Viagem mexida e Mexicana

" Tás com medo?.."
Não. Respondia eu, com voz meio sumida, com um tremer interior que não podia dar a conhecer qualquer sinal de fraqueza.
Uma viagem de aventura é sempre sinal de coragem mas também de risco e aqueles que não tem noção do que podem passar ou desconhecem o conceito de risco, são os chamados inconscientes. É preciso ter medo para o poder enfrentar, senão é escusado e inútil. Claro que tinha algum medo. Ir para o México não era o mesmo que ir à mercearia em baixo e, dado isso, tentei gerir esse receio com a minha grande vontade de explorar aquele território. Por esse motivo, mesmo que tivesse alguma insegurança, ela seria suplantada pela energia que uma viagem de rumo incerto me dá e sempre deu. É verdade. É aquela adrenalina a correr pelo corpo. Ir assim para longe, sozinha, incerta, numa película sem guião estabelecido, para conhecer, viver, experienciar, provar sabores que aqui estão longe de ser avaliados. Esse risco, apesar de bastante medido, existia e contribuía para a minha empolgante vontade de passar mais de 9 horas num avião, atravessando todo o atlântico.
Passei um dia à volta da mala azul, enchendo-a com tops, com merdinhas de mulher que ocupam sempre demasiado espaço. Desta vez não levei pensos higiénicos, não foi preciso ahaha..E mesmo imersa na excitação do desconhecido, o meu coração murchava, se quedava assim triste e choroso, espelhando no meu olhar essa dúvida interior. Queria ir e não queria. Como te adoro...Como poderia deixar o meu amor aqui uma semana, sozinho e partir para o outro lado do mundo? Da mesma forma que a euforia vinha, era logo substituída por algo mais macabro e eu parava, frente à mala, a olhar para o vazio, para as letras geométricas de um top qualquer. A vida é curta. Carpem Diem. Toca a embalar o material e não se pensa mais nisso.
Despedi-me da minha vida, da minha casa, das minhas recordações que nunca me deixarão, do que sou e do que não quero ser e, fechando os olhos na direcção de um repouso temporário, parti para uma nova e curta etapa, uma espécie de entrada na Alice do País das Maravilhas, só que com uma grande e imponente iguana de pele descaída, em vez de um coelho fofinho e brilhante. Wow, que imagem..
03/07/06
12:00. O check In tinha sido rápido, a despedida familiar também. Para sorte dos meus pecados encontrei uma senhora muito faladora perto da porta de embarque e uma companhia certa para aquela que seria a mais longa viagem que alguma vez teria feito num avião. "A nossa viagem até Cancún durará 9 horas e 15 minutos." Ah Great. Olhei à minha volta e só vi casalinhos de aliança brilhante, mas com umas caras muito sérias, demasiado sérias para quem iria gozar uma bela lua de mel nas Caraíbas (pelo menos a maioria deles ia). Havia demasiados lugares livres e perguntei-me porque diabo tinha sido tão complicado marcar a merda da viagem. Com os lugares que sobravam ainda podiam ir umas dezenas de pessoas e eu, com mais dois lugares varios, podia fazer uma caminha e dormir alegremente a qualquer altura da minha viagem. Felizmente, a M. F. predispôs-se a fazer de mãe adoptiva e estive toda a viagem em amena cavaqueira com ela, com o devido espaço dedicado aos comes, bebes e liquefezes (belo neologismo este), tendo como banda sonora os filmes "Os Três Duques" e "O Quarteto Fantástico". Ainda vi um pouco do primeiro, mas depois cansei-me de estar ali parada. Convenhamos que 9 horas dentro de um avião é muito tempo, demasiado tempo para estarmos sentadas e a refeição servida não ajuda. É uma bela trampa. O mais engraçado é que passado uma hora de viagem, servem o tal almoço e depois so voltam a dar uma refeição ligeira com um pão cheio de um chouriço ranhoso que cheirava mal, quase quando chegamos ao destino. Ai White, coloured by you..Ya ya..Se ao menos me tivessem dado os lápis de cor ou de cera..Mas assim, continua tuudoooo muito cinzento. Ups. Sorry. Não quero fazer publicidade negativa à White. Aliás, tirando o problema da comida (que é um problema e uma realidade em todas as companhias aéreas) a White presta um bom serviço ao cliente.
Depois de umas turbulências e de uns desabafos pessoais, chegámos. Aí mais gente meteu a mão à cabeça quando percebeu que ia sozinha e já dizia uma moça de Guimarães: "É de baloor." Sorri, tirei a tralha e avancei. Ao cruzar-me com o ar vindo lá fora, senti um queimar espalhar-se por todo o corpo. Era quase como se estivesse a caminhar para a entrada de um grande forno, não com uma temperatura muito elevada. Estariam cerca de 33ª graus centígrados, que teriam, na realidade, como efeito real, mais de 40 graus no nosso corpo. A humidade era muita e senti as primeiras gotas a deslizar nas minhas costas enquanto caminhava, stressada, para o controlo alfandegário. Perdi-me dos meus amigos e fiquei ali, junto de portugueses e americanos, esperando que a fila avançasse. Felizmente, a minha vez chegou e um mexicano de fato acastanhado e pele escura inspecciona o meu passaporte, olhando de seguida para mim. "Vienes sola?"..A resposta é óbvia. "Pobrecita..Te van a robar!" Txéé..Ó man, começas bem, começas!! Limitei-me a sorrir e a dizer descontraidamente "Nooooo". O jovem lá trocou uns risitos e deixou-me ir. Abalei para a zona dos tapetes, esperando a minha mala pequena azul. Não havia sinais da M.F. apesar de eu olhar, procurando um mínimo sinal de protecção antes de me lançar por completo às feras. Completo esse processo, cada um foi p seu lado e descobri que daquele avião era a única a ir para o hotel Oasis Cancun, a única portuguesa ali, a única que ali estava. Explorei o hotel, tirei fotos, perdi-me na sua imensidade e à noite, depois de jantar criei laços com os emrpegados do buffet "Tatish", lugar onde ia tomar as minhas refeições, nomeadamente com uma morena de 21 anos chamada Azucena. Como ela dizia, é uma flor.

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