julho 25, 2006

Viagem mexida e Mexicana II

Perdi-me na imensidão do Oasis Cancún, sozinha, no meio de um bando de americanos à beira da piscina que ignoravam, por certo, a minha nacionalidade. Aliás, muitos deles nem deviam ter ouvido falar de Portugal. Deambulei pela área, depois de ter deixado as coisas no quarto e acabei por jantar no "Tatish", acabando por falar com Azucena, a flor mexicana. "Hola. Estas sola? Pasa." Ela recebia as pessoas que iam jantar, na sua roupa informal: uma camisa branco com um grande colarinho, uma saia preta que dava pelo joelho com uma ligeira racha atrás e as sandálias meio envernizadas, pretas, de ponta fina e bicuda, podendo-se ver a curva do pé atrás e os collants finos, pretos, onde a cor da pele não dava grandes sinais. Fiquei ali com ela, falei, cheguei mesmo a ajudá-la a traduzir coisas em inglês que ela não entendia e surpreendi-me com o trabalho de campo que estava a elaborar, perseguindo aquele trabalho hoteleiro que, infelizmente, muitos dos mexicanos se viam obrigados a fazer devido aos miseráveis salários que, no caso de serem o mínimo nacional, não ultrapassam os 3 euros e meio por dia. Era notável a leveza no rosto dela cada vez que uma família de americanos passava, dizendo sempre um "Hola" sorridente, encaminhando toda a gente, de pé, à porta do edifício, simplesmente esperando o que tinha, mas que não queria ter de, esperar.
Jantei e voltei. Os empregados eram de uma simpatia extrema e era fácil iniciar qualquer assunto com eles. Geralmente brincava com o facto de Portugal ter ganho ao México no mundial..Eles, na maior parte das vezes, riam-se mas não sei se achavam lá muita graça..
Continuando (que hoje estou sem muita apciência para isto), bebi umas bebidas e depois fui dormir. Aleluia. Tinha vista para a lagoa, do outro lado. O mar pareceu-me agitado mas a água era de um azul turquesa, muito forte que quase fere a vista e isso é mais digno que muita coisa que nos pode até agradar, eventualmente. Talvez por ser tão belo e tão agitado, ao mesmo tempo, nos capte ainda mais os sentidos. É como se o mar ganhasse vida por si mesmo e transmitisse uma força que, mesmo perdida, encontra-se algures na alma humana.
Dormi ao som da televisão que transmitia novelas como "Heridas de Amor" e "Verdade Oculta". Regojizei o espírito e enterrei-me na minha cama King Size, até o cansaço me vencer e partir para a escuridão.
03/07/06
6:30. Acordei cedo, fui comer uns ovos mexidos com bacon ao "Tatish" e reparei nos pratos dos meus vizinhos, cheios, cheios. "Impressionante", pensei. Como é que aquela gente consegue comer tanto de manhã? Doces, crepes, ovos mexidos, panquecas, bacon, carne frita, chocolate derretido..mais o café da manhã, mais a fruta, mais uns bocados de tarte e sobremesa. Limitei-me a comer o que me apetecia e abalei.
Dei um mergulho na piscina porque apesar de ser muito cedo, a pele estalava quase quando o sol lhe embatia directamente. Refresquei-me e fui falar com o gorducho, o representante da "TravelPlan" que me tinha pedido para ter com ele nesse dia. Estavam lá mais uns casais e percebi que iam ser algumas das pessoas que iriam fazer o circuito comigo, que começaria no dia a seguir. Uma moça de óculos de aro fino, cabelo meio palha de aço com madeixas louras e um sorriso infantil, virou para mim os seus olhos, sempre numa espécie de simpatia constrangedora. "Simpática". Depois desse episódio, segui para ir buscar a minha toalha e fui para a praia, deitando-me debaixo de um chapéu de palha, a ver a imensidão marítima caribenha que surgia diante de mim, lendo, refastelando e escutando as peripécias de uma família mexicano que, ao meu lado, discutiam por causa de um bébé de 5 meses que não paráva de berrar e, aparentemente, afugentar os turistas mais mesquinhos. Ainda bem. Não queremos cá esquisitinhos. Ide para as vossas casas, ter a vossa vida perfeita, com os bibelots limpinhos e depois logo se vê. Decidi ir à água, desafiar as leias da natureza, quando na verdade elas acabaram quase por me afogar. Desprevenida, a dada altura, levei com uma onda muito forte na cabeça que me fez cair e estar debaixo de água uns segundos. Não que isso faça mal, não senhora, é nestas alturas que nos apercebemos que as ondas realmente só têm mesmo grande utilidade para os surfistas e tal. Mas assustei-me e saí do mar, aflita e com tosse. Sentei-me na areia, à espera, então, que a água me lambesse os pés, refrescando-me. E aí passei a minha manhã. Almoçando posteriormente, com as minhas calças brasileiras que fizeram um sucesso desgraçado por todo o hotel e, mais tarde, até na povoação de Cancún. Sabem o que é ter todas as mulheres a olhar para as vossas pernas? Pois..é que por mais estranho que parece, o único interesse delas era as calças e enquanto andava sozinha no centro de Cancún, depois de ter apanhado a carrera R-2, que corria toda a zona hoteleira e turística, ouvia comentários como "Oh, I like her pants!" e "Que pantalones bonitos!" e "Hey, guapa, adonde compraste tus pantalones?" que me fizeram questionar a minha vida profissional, pensando seriamente em fazer a comercialização daquelas calças esburacadas pelo centro de Cancún. Ao menos sei que ficava rica - ou talvez riquíssima - em três tempos. Ah pois é.

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