junho 01, 2006

19/05/2006 - 27/05/2006 - 01/06/2006

"Não te queres sentar ali?..Tá frio.."
Estive ausente, a tratar da minha vida. Desculpem lá qualquer coisa, mas há prioridades..e o blog, aliás, estar sentada à frente do pc num longo exercício de regorgitação dos meus mais inconscientes problemas, não fazia parte da lista. Mas, confesso...tive saudades disto. Se o meio de expressão por excelência poderá ser a comunicação oral, e minha também, a escrita transporta-nos para pensamentos para além do imediato. Aliás, muitas vezes a escrever sai-nos coisas, de uma forma imediata, que de efémeras ou superficiais nada têm. E é por esse motivo que escrevo, escrevo como se não houvesse amanhã, escrevo para aliviar a alma quando uma mera conversa ou interação física, não consegue compreender os diversos tópicos do cerne da questão. E é por isso que voltei hoje. E porquê? Perguntam-se vocês..
Nas últimas semanas, passei de uma simples rapariga da cidade a uma campónia das montanhas, de faces rosadinhas, pernas elásticas, sorriso pregado e coração, feito de pulinhos, ao peito. Não vos sei explicar o porquê disto ter acontecido, e acho que também não iria querer dizê-lo. "Man..it's personal..". Só vos posso dizer que numa noite fria lisboeta tudo mudou, as minhas certezas da vida modificaram-se por completo e os meus desejos de esperança concretizaram-se.
Não entendo como podemos, do dia para a noite, perder o controlo absoluto das coisas, quase como se fossemos marionetas das nossas escolhas, ou das coisas que acotecem com naturalidade sem puderem realmente ser escolhas - são o que têm e devem ser - e sem nada podermos fazer para manipular as nossas emoções. É assim que me sinto agora, totalmente fora de tudo e de todos, incapaz de controlar o mais básico, de ter mão no que sinto ou deixo de sentir. É como se algo tivesse tomado conta de mim e pensasse por mim, como se eu deixasse de ser quem era, e me transformasse em algo que não consigo definir. É bom e arrojado e louco, mas também é totalmente imprevisível e instável. Será essa a melhor definição para o amor? O amor dá cabo de mim, mexe, remexe e lembra-me coisas do passado, atira-me possibilidades para o futuro e deslumbra-me num presente que nada mais é do que isso. Não liguem, estou completamente "duracell", escrevo que nem uma louca, tentando acompanhar os milhentos raciocínios que surgem na minha mente mas é complicado, é complicado perceber as questões todas que queria entender sobre a vida, sobre as pessoas, sobre os sentimentos, sobre as traições, sobre o intransponível e o incontrolável. Queria estudar isso tudo e penetrar nas mentes verdadeiras das pessoas, mas não o posso, e na realidade secalhar nem o queria fazer, contudo, queria definir o estado de espírito do mundo globalizado que vivemos: o mundo com as pipocas doce, os cinemas Lusomundo, os Mac's espalhados e os iPods, um mundo do qual também faço parte e que muitas vezes penso que não seja necessariamente o melhor, um mundo confuso e grande. Em suma, uma merda de mundo às vezes, um mundo fabuloso, nas outras. Um mundo de informação manipulada, de emoções aos kilos e ganância às toneladas.
Sinto-me irredutível e exigente comigo mesma, não consigo deixar de pensar que podia ter feito muito mais por mim, que nunca fiz grande coisa, que apenas me deixei levar por um ritmo natural das coisas que nunca exigiu um grande esforço para além do mínimo. O tal esforço praticado e feito pela maioria das pessoas que vive nesta esfera "estandardizada", era bom sentir-me útil, preencher lacunas, voar, tentar mudar alguma coisa, abdicar dos meus sonhos de infância em que varro desejos, medos, paixões e loucuras em cima de um palco com cortina vermelha e, com toda a modéstia e possibilidades que tenho, arrancar para a simplicidade da realidade. Não que essa simplicidade não seja bela e poderosa, é muito..e cada vez mais o sinto, mas como viver resignada a uma simplicidade que, apesar de glamourosa, é injusta? Uma simplicidade onde milhares - digamos antes, milhões - morrem à fome, não têm casa, não têm vida, não têm amor, não têm ninguém! Isto ocorro-me todos os dias, todos os dias em que entro no metro e vejo um pedinte, cada vez vejo que me lembro dos olhos transparentes de crianças sujas e imundas que preecnhiam os baldios situados no Rio Nilo. E depois, só penso assim: "Foda-se, que merda de egoísta me saí."
A violências às vezes, para nos afectar, tem que nos tomar primeiro.
L.

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