maio 17, 2014

Desesperadamente Procurando Nova Iorque (II)

"Desculpe? Ah". Olhei dormente para a figura brilhante do assistente de bordo, com as suas sobrancelhas bem delineadas e um bâton do cieiro a esconder as possíveis lascas, tão perto. Senti uma fragrância forte e, talvez por isso ou por ter acabado de despertar de um sono agitado, apurei o foco para o carrinho das bebidas. "Coca-cola, por favor". um esmalte branco e polido brilhou na minha direção, o que foi mais do que suficiente para me endireitar e deixar cair o tampo nas costas da cadeira à minha frente.

À minha volta parecia que a noite tinha aterrado no avião. A A. continuava a três filas de mim, com um enorme tufo preto no topo da cabeça pendurado no lado do topo de um lugar acinzentado. As janelas alternavam, entre a negritude e a clarividência, e os ponteiros pareciam que teimavam em não avançar, embora eu estivesse perdida. Apenas era uma mancha, algures a sobrevoar o Atlântico. Uma mancha no limbo, entre dois pontos marcados no espaço, presa na linha do tempo, quase como se estivesse a atravessar um portal, onde tudo significaria mudança instantânea, adquirida e... desconhecida.

Olhei para a janela, para o conjunto de nuvens que se assemelhavam a tufos de algodão. Saltei para cima deles, como se fossem um gigante trampolim, como passaporte para as mais belas paisagens. Dei piruetas e re-voltas como se pudesse voar e cada descida era um beijo com o material, era um aparar de um golpe, tão possível e real nos dias mais comuns, um sorriso estampado nas costas ou com qualquer outra parte do corpo que chegasse ao ponto mais baixo da queda. Descansei o olhar e sorri. Agora as nuvens surgiam como baguetes e recordei as dentadas estalidas de muitas, com um "crunch" que aquecia o meu palato com novas sensações. Mesmo a tempo. "Sandes de presunto ou queijo?" Fixei o dentinhos brancos. "Presunto". E um estaladiço cremoso, variante pão de plástico, instalou-se.