janeiro 29, 2007

Babel, de cores diferentes mas iguais..

Como um pensamento que se entranha na nossa alma, mas sem deixar qualquer rasto, “Babel” é uma película cortante e penetrante, uma visão poderosa, mas realista, do mundo desigual e assimétrico do século XXI, o panorama complexo dos dias de hoje.
Alejandro González Iñárritu, realizador emblemático de "Amor Cão" e "21 Gramas" leva até à grande tela, durante mais de 140 minutos, uma rede de histórias que, apesar de se passarem em pontos do globo longínquos e distintos, estão profundamente interligadas. Quer seja no Japão, México ou Marrocos, as linguagens culturais daqueles povos podem ser únicas, porém a natureza do ser humano permanece inalterável. O Homem, como um bicho que se move pelos campos que semeia, age conforme a vida que tem e conhece: na terra onde nasce e cresce, torna-se distante do semelhante que vive a mais de 3000 kilómetros de distância, mas essa diferença não anula os laços de igualdade.
Inacreditavelmente, o alvejamento acidental de uma turista no deserto do Sahara é o ponto de partida deste filme que, num compasso lento e demorado, enebria o espectador, de forma discreta, com elevados níveis de suspense que nos fazem estar colados à cadeira, à espera que algo ainda mais inesperado aconteça. De um cenário saltamos para outro e, entramos também, na vida das personagens que se movem em esferas e círculos sociais com regras rígidas. Tal como no mito, o mundo apresenta-se como uma gigante Torre, cheia de pessoas que não se entendem, pelas visões e linguagens serem tão antagónicas.
Numa análise chocante e intimista da sociedade discriminatória do Mundo de hoje, “Babel” faz-nos entender que, momentos egoístas à parte, nem todo o mundo pode viver confortavelmente numa espreguiçadeira de piscina e comer fruta, ao mesmo tempo, enquanto desconhece a desgraça dos outros lá fora. Nem tudo são i-pods nos jeans caros de mais de cem euros ou sessões de capitalismo desenfreado, enquanto os saldos não acabam.
“Babel”, antes de mais, é uma lição de vida que nos remete para um árido deserto, sem fim, no qual o nosso papel não é mais que um grão de areia, arrastado pelo vento. Afinal de contas, porque é que uma surda-muda japonesa não pode ser tão feliz como um casal americano, que deixam os filhos em casa, e vão passar uma segunda (ou terceira) lua-de-mel a um mundo exótico? Pois é. E mesmo com o sentimento de insignificância que nos invade a alma, depois de assistirmos a esta obra da 7ª arte, de uma coisa temos a certeza: nem com a maior impotência em relação ao mundo externo, deixaremos, algum dia, com forçar de vontade de poder fazer alguma coisa.
Vencedor do Prémio de Melhor Realizador e o Prémio do Júri Ecuménico no Festival de Cannes e somando já sete nomeações para os Globos de Ouro nas categorias principais, “Babel” segue até à cerimónia dos Óscares da Academia de Hollywood, com nomeação para melhor filme.

1 comentário:

Anónimo disse...

Gosto da tua forma de ver e sentir as coisas
Jose